sexta-feira, 26 de julho de 2013



O orgulho divide os homens, a humildade

os une.
Henri Lacordaire

A VERDADEIRA MORTE



Um homem vai conversar com um sábio, e assim que chega, sem mais delongas, já resolve lhe fazer a pergunta que sempre desejou.


- Mestre, fala-me sobre a morte.


O mestre olhou para o homem e disse:

- Falar sobre a morte, meu caro? Não há muito o que dizer sobre ela. O que pode se pode dizer é que a morte, tal como a compreendemos, não existe. A morte é apenas uma mudança de fase onde se perde o corpo físico e passamos a viver em outro nível de realidade.

Mas o homem não estava satisfeito com a resposta. Queria saber mais, e disse:

- Mas mestre, será que é só isso mesmo? O maior mistério de nosso mundo, e é algo assim tão simples? Não pode ser.

O mestre responde:

- Sim, as maiores verdades da vida são simples. Mas se você quiser que eu te mostre o que de fato é a morte, teremos que viajar até um certo local. O que me diz?

O homem ficou muito eufórico. Estava ali, à sua frente, um sábio muito reconhecido em seu país anunciando que iria lhe revelar diretamente o segredo da morte. O homem não hesitou e, de pronto, arrumou suas coisas para fazer a viagem.

Conforme ele e o sábio iam viajando, o homem mal podia conter o seu entusiasmo, e pensava “Este sábio vai me mostrar a verdade sobre a morte. Será que ele vai me transportar a esta outra dimensão? Irei ver os anjos? Irei em algum templo secreto e me será desvendado algum conhecimento especial?”.

Ambos então chegaram num pequeno vilarejo onde havia algumas cabanas. Havia um homem deitado dentro de uma delas. O sábio então apontou para o homem deitado e disse:

- Está vendo aquele homem ali deitado? Ele irá nos revelar a verdadeira morte.

O homem ficou sem entender. Seria ele um santo? Um mestre ainda mais elevado? Um ser superior?

O sábio continuou:

- Este homem que você pode ver está deitado nessa cama há mais de 1 ano. Ele perdeu a mulher, os filhos e os pais num assassinato. Sua família era tudo para ele, e após esse incidente, ele simplesmente deixou de viver. Está prostrado nessa cama boa parte do dia. Quase não sente mais as coisas, tornou-se frio e permitiu que a tristeza e a mágoa o dominasse. Sua vida está estagnada e ele não consegue se libertar desse estado de paralisia. Compreenda bem, a única morte que existe é essa! É a morte de nossa alma. A morte de nossa essência vital. É quando desistimos de viver e permanecemos estagnados e presos a ilusões; presos a mágoas do que se passou e vendo a vida passar sem participar dela. A morte, como perda do corpo físico não existe. A única morte que existe é essa, a morte de quem somos quando desistimos de viver e de ter esperança.

O homem agradeceu o sábio e deu-se por satisfeito. Essa é, verdadeiramente, a única morte que existe.

Autor: Hugo Lapa