Dias melhores, pra sempre...

Kelle Lopes

“E a vida? E a vida o que é, diga lá, meu irmão? Ela é a batida de um coração? Ela é uma doce ilusão?Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento?Ela é alegria ou lamento? O que é? O que é, meu irmão? Eu sei...Que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita:É bonita, é bonita e é bonita!”

Começo com os versos do saudoso Gonzaguinha, que expressa exatamente o que estou sentindo. Após alguns dias de angustia, tristeza e dor, percebi que a vida pode ter qualquer definição possivel, só depende do seu condutor.

Sempre busquei o que me fizesse feliz, e quando encontrava, ou achava que tinha encontrado, a coisa mais dificil era abrir mão. Engraçado como nos apegamos, mesmo quando não está mais nos fazendo bem. Bicho estranho esse tal de ser humano.

Após alguns meses de muita alegria, vieram uns dias muito ruins. Meu erro foi me apegar demais e não abrir mão de imediato quando foi necessario. Dessa forma sofri, chorei e rezei muito.  Ele foi o meu amigo mais gentil, nunca reclamou do meu peso em seu colo, ou de eu molhar suas vestes com minhas lagrimas. E como todo bom pai, viu que era preciso, e me deu um tapa com luva de pelica. Me mandou um anjo, mas não um “tradicional”, com cabelos loiros enrolados, olhos azuis e belas asas brancas, muito pelo contrario.

Estava eu, no ponto a espera do onibus que me conduziria até o trabalho. No mesmo lugar também estava um homem que as pessoas se mantinham afastadas. Ele parecia ter alguma deficiencia e estava com roupas bem simples. Me assustei quando fui chamada com um toque no ombro, era ele, que com a voz que requeria muita atenção para ser entendida me disse: “ rosto bonito”, eu muito sem graça, apenas respondi: obrigada e me virei. Fui novamente chamada e agora com todas as pessoas observando a cena, ele começou um dialogo comigo.

- Você trabalha onde?

- Eu faço estagio, ainda estou estudando.

- Eu também queria estudar.

- Você parou?

- Não. Bala , tenho que aprender tudo de novo, ler e escrever.

Ele apontou para sua cabeça, e foi então que eu tive coragem de olhar. Ele tinha todo o lado esquerdo paralisado. Andava, falava, movia o braço com dificuldade e tinha o rosto desconfigurado. Começou a me contar como se fossemos velhos amigos que não se viam a algum tempo, toda a sua historia. Fora vitíma de bala perdida e perdeu parte das suas funções celebrais.O que me impressionaou não foi a tragedia em si, e sim a forma como ele contava e se referia a ela, com uma tranquilidade e felicidade que a dias eu mantia longe de mim.

Quando o onibus chegou, me despedi, mais ele disse que também iria. Entrei, passei a roleta e ele ficou na parte dianteira. Quando me dirigi a cadeira, ele gritou la da frente: “ tchau princesa” , e abriu o sorriso mais puro e verdadeiro que já me dirigiram.

Senti vontade de chorar e pedir perdão. Meu Deus, a quantos dias eu não dou um sorriso? A quantos dias me lamento pelo o que aconteceu? A quantos dias ando triste por uma decepção natural da vida? Como é possivel aquele homem, que logo vi ser um anjo enviado pelo senhor, estar tão bem, e eu que não possui nenhuma limitação fisica ou mental e nem vivo em hospitais, estar tão mal?

Agradeci pelo anjo, e prometi que as coisas seriam diferentes. Logo depois, para dar mais força a minha promessa, vi o que faltava, dessamarrei os nós e tive certeza de que, o que passou, passou e dias melhores virão.

Percebi, que não devo criar espectativas com as pessoas ou então elas vão acabar nos decepcionando. Aprendi que como já dizia o poeta: “A dor é inevitável, o sofrimento é opcional”. Eu decidi por não sofrer mais. As pessoas que te amam de verdade, não te fazem sofrer, e somente com essas pessoas devemos nos importar. Quanto as outras, elas passam na nossa vida e se não ficam é porque não devem ficar, então é melhor que partam.

Deus não escreve certo por linhas tortas, somos nós que não entendemos a sua escrita. Também como caprichar na caligrafia? Os filhos são numerosos e o trabalho infinito.

Mais uma fez, o pai ( ou seja lá, como outros o chamem), me mostrou seu amor infinito e que os meus problemas não são, nem de longe, os maiores do mundo, eles são simplesmente meus. Aceita- lós ou questiona-lós, é uma escolha que cabe a cada um.

Ser feliz, não é um estado permanente, mas deve ser uma busca diária. Hoje meu espírito está em paz, o peso está mais mais leve, o sorriso é natural e tenho convicção,  de que a vida devia ser bem melhor E SERÁ!